DEVANEIO
Essa noite o Stanley (Inácio) me ligou. Do Irã. Estava à procura de novos picos para que o time da Maha
pudesse finalizar o vídeo em grande estilo, uma vez que Brasília, Sampa e Rio de Janeiro,
apesar de excelentes, já não bastavam pra quem buscava o prêmio de melhor vídeo do ano do
Troféu Cemporcento Skate, uma das premiações mais consagradas do skate mundial. E estava
super encanado, pois ficara sabendo do interesse da Drop em adquirir a Cizma, assim como já
havia feito com diversas outras marcas, principalmente de shapes, que haviam tido um bom
desempenho nos últimos anos (e ganhado grande valor de mercado), vindo a se tornar o
grande conglomerado que é hoje em dia, detendo a maior parte da venda de shapes não só no
Brasil, mas em toda a América do Sul. Disse que não, que a marca tinha que se manter fiel, a
exemplo da Eleven, da Diet, da Simple e de muitas outras que seguiram firmes à tentação e
continuaram a fazer um bom trabalho, lançando promessas e produtos de ótima qualidade.
Direto ele faz isso, de me ligar para falar dos altos e baixos do mercado, já que, nos últimos
anos, acabamos não tendo tanto tempo para sessionarmos juntos, como no passado. Tirando
um pequeno chiado, a ligação era boa, dava pra ouvir tranquilo, e ele seguiu dizendo que
tinha quase certeza de que, apesar de todo o esforço que vinham fazendo, seria muito difícil
tirar o prêmio de melhor skatista do Zezinho (José Martins), pela Hocks. E que Qix, Sims ou New não tinham
chances pois, segundo ele, não haviam feito as renovações necessárias em seus times para
alcançar tal feito. No máximo, no máximo Jhony (Melhado), pela Blaze (naquele anúncio), ou um daqueles
moleques novos da Nail, mas como melhor manobra, não como melhor parte.
Eu concordava com algumas coisas, discordava de outras. Não curto muito quando me ligam
de surpresa para falar por muito tempo, e aquele chiado havia ficado mais forte, de modo que
sua voz já não me chegava assim tão nítida. Perguntei o que ele achava do restante do time da
Blaze, só monstros, se eles não podiam chegar chegando e levar como melhor vídeo, fora
tantas outras, como Oüs,, Freeday, Future, Crail, que esses caras vendem até na Europa,
mantêm times fora do Brasil, etc., sem contar os brasileiros que andam pelas marcas gringas e
os gringos que também buscam reconhecimento hoje em dia aqui no Brasil. Mas não, disse
ele. Disse que sua aposta era sólida e que estava confiante.
Enquanto seguia falando algo sobre a importância da Matriz no game e da pilacagem dos caras
da Sigilo, o chiado, que a essa altura da ligação já não me permitia ouvir quase nada, foi se
tornando cada vez mais estridente. Estridente e ensurdecedor, uma espécie de bip
intermitente, de três toques por vez. Já não podia ouvi-lo. Foi quando estiquei o braço e
apertei o botão do meu celular. Era o alarme, às quatro e meia da manhã. Na tv, a imagem com
alguma imagem congelada do Berrics. Levantei-me rapidamente, calcei meu Nike, vesti meu
kit, todo gringo, meu skate, idem, e fui trabalhar. Fui remando até o ponto. Estava atrasado.
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